quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

O Conceito da Peça

· O quê ?

Adaptação de La Strada de Federico Fellini. Óscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1957.



· Como ?

Uma adaptação livre do texto, não uma cópia do filme. Trazer esta história para o nosso contexto socio-cultural-económico.



· Quem ?

5 jovens actores profissionais motivados e com garra.



· Sinopse


Gelsomina é vendida a Zampano, um artista de rua. Com a sua mota percorrem as praças do país fazendo números de farsa e de força. Na estrada cruzam-se com um saltimbanco chamado « O Louco », que adora provocar o Zampano e nutre uma amizade especial por Gelsomina que é totalmente retribuída.

Zampano acaba por mata-lo. Gelsomina nunca recupera da perda, adoece gravemente e elouquece.

Zampano abandona-a enquanto ela está a dormir. Uns anos mais tarde tem conhecimento da sua morte. Pela primeira vez, chora.



· A nossa Sinopse

La Strada conta a história de dois saltimbancos, Gelsomina e Zampano. Gelsomina é uma mulher humilde, ingénua, pouco dotada de inteligência mas esperta e curiosa, que é vendida pela sua mãe (para substituir a sua irmã Rosa que morreu por circunstâncias desconhecidas) a Zampano, um artista de rua que percorre o país com uma velha mota-roulotte e que precisa dela como sua assistente e parceira para as suas farsas cómicas e para o famoso número das correntes. Entre eles inicia-se uma relação muito peculiar. Zampano, um homem rude que sempre preferiu a sua liberdade, gosta dormir com outras mulheres, beber em demasia, ou maltratar regularmente Gelsomina. Esta sonha também com uma liberdade que, no seu caso, nunca foi opcional. Juntos percorrem a estrada de uma Itália do pós-guerra, pobre, decadente, cheia de miséria e fome, da qual as personagens acabam por ser um reflexo bastante evidente. Nota-se o fascínio de Fellini pelo mundo do espectáculo e a sua luta por uma liberdade dolorosa. Gelsomina não consegue evitar nutrir carinho e fidelidade pelo homem que a comprou, a explora, a abandona para ir com prostitutas e a força a roubar. Gelsomina é capaz de uma força de amor tão grande, de uma capacidade especial de transformar qualquer existência, mesmo a mais medíocre, em apoteose, que nos faz afirmar que atrás de qualquer vida, mesmo a mais absurda, se pode esconder um sentido mais absoluto.
A relação entre as personagens: Gelsomina, de uma expressividade quase muda, talvez de inspiração chaplinesca, seduz o espectador com o seu encanto inocente; Zampano, em oposição, um gigante bruto, que nem um cão maltratado e raivoso, é um homem perdido em si mesmo que vê no seu número circense, do qual se orgulha muito, a única forma de se sentir respeitado e, em última instância, vivo. Há uma relação entre as personagens similar a Estragon e Vladimir de “À Espera de Godot”: por mais que seja difícil estarem um com o outro, não conseguem viver um sem o outro.
A repetição do seu número das correntes ao longo do filme mostra-nos quão vazio e penoso é o seu mundo, como se aproxima constantemente da degradação, fazendo-nos também sentir uma proximidade em relação à personagem. Poderá Gelsomina resgatá-lo desse destino? É uma pergunta à qual o filme responde de forma inesquecível. Apenas uma palavra vem à cabeça: obra-prima.
Num dado momento, cruza os seus caminhos o equilibrista-violinista-filósofo-poeta-palhaço conhecido como O Louco, que desestabiliza completamente a relação de Gelsomina e Zampano, que adora provocar este e nutre uma admiração especial por Gelsomina. Zampano só sabe reagir-lhe com violência. O Louco é amável, protector, e amigo para a gentil Gelsomina. Aconselha-a ficar com o Zampano, porque “se ela não ficar com ele, quem ficará…”
Zampano acaba por matar o Louco num acesso de fúria, Gelsomina fica inconsolável pela morte da sua alma gémea, adoece e endoidece. O Zampano acaba por abandona-la na borda da estrada. Anos mais tarde, por acaso, sabe que ela morreu.
Pela primeira vez, ao saber esta notícia, Zampano chora. À dor e resignação de existir sobrepõe-se o triunfo final, a volta à sensibilidade, a redenção, a esperança.
É uma história sobre a condição humana, a vida dos artistas, sobre a rudeza, inaptidão, e sobretudo, sobre a verdade do amor.

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